quinta-feira, 4 de agosto de 2011



Para a boa compreensão deste artigo, é imprescindível a leitura prévia dos artigos anteriores, caso ainda não tenha lido, utilize os links abaixo: 


Ao ler o título pomposo deste quarto elemento formador do gosto pode-se ter a falsa impressão de que ele é restrito aos acadêmicos da música. Apesar deles certamente estarem inclusos neste contexto, não é a eles em especial que me refiro. A ideia é me referir a alguma espécie de aprofundamento, seja ele teórico ou não.

É muito comum, quando temos interesse por alguma música ou estilo, termos despertada nossa curiosidade para conhecermos mais e melhor. Esse interesse pode surgir quando já gostamos de alguma banda, artista ou gênero, graças a algum dos outros fatores formadores do gosto, ou pode surgir por mera curiosidade, primariamente, e ao adquirir certo conhecimento, seja de forma acadêmica ou empírica, essa "erudição" passa a agir na formação de nosso gosto.

Um exemplo pessoal foi quando tive o interesse em conhecer música clássica. Muitas pessoas que eu respeitava insistiam que era excelente, apesar de sempre ter isso em mente, nunca tive uma exata noção das razões desse tipo de música ser tão boa, e passava longe do meu gosto pessoal, salvo alguns temas clichês. Ao me debruçar sobre o assunto, percebi que o termo "clássico" era uma generalização incorreta para descrever estilos musicais tão diversos entre si, que havia um grande abismo nas formas musicais de um Barroco e um Romântico por exemplo. 

O Barroco era desagradável para mim, uma proliferação de notas quase infinitas, era demais para absorver... Ao me aprofundar neste estilo, entendi sua forma horizontal de composição, as fugas e tantos outros aspectos fascinantes desse estilo musical. Com todo esse esclarecimento, parece que um universo totalmente novo se abriu diante de meus ouvidos, e ao ouvir as músicas, passei a perceber o que havia ali; pude entender a criatividade, o inusitado, o brilhantismo, a originalidade de cada compositor, o "caminho" percorrido pelas músicas. Isso tudo tornou-se belo para mim e com o passar de algum tempo e muitas audições, passou a fazer parte do meu gosto.

Esse tipo de erudição pode vir de qualquer estilo musical - do mais simples ao mais complexo (em todos os sentidos) - quanto mais nos aprofundamos em conhecimentos sobre eles, em geral mais gostamos. Apenas com essa bagagem podemos ter clareza para afirmar se determinada música é boa ou ruim, independente de gostarmos dela ou não. Apenas assim conseguimos perceber que não existe um estilo ou gênero musical ruim, assim como época que presta ou que não presta, mas músicas boas e ruins dentro de cada um deles.

Muitos ouvem música de forma emocional, e é muito prazeroso aproveitá-la dessa forma, mas há também outra maneira, também muito prazerosa e que pode amplificar ainda mais as emoções - a forma racional - entender o que acontece de fato nas composições, por quais caminhos ela segue, ser surpreendido com a originalidade e o inusitado dos compositores e passar a gostar cada vez mais e com mais força dessa maravilhosa forma de arte chamada música!


   O AUTOR:
Rodrigo Nogueira foi professor de teoria e percepção musical, história da música e saxofone e atualmente é administrador de empresa e estudante de filosofia na USP

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