quinta-feira, 21 de julho de 2011

Teremos hoje o segundo capítulo da série A Formação do Gosto Musical criada pelo blog Sons, Filmes & Afins, e que está sendo republicada aqui na Comissão do Rock com a permissão do autor da série.


Para a boa compreensão deste artigo, é imprescindível a leitura prévia do artigo anterior, caso ainda não tenha lido, utilize o link abaixo:

A Formação do Gosto Musical - Introdução

Desde antes de nascermos, temos contato com um grande número de sons, sejam eles internos como as batidas do coração por exemplo, quanto externos como a voz da mãe ou sons do ambiente. Só que para formação de um padrão cerebral há a necessidade de dois fatores: a repetição do som - as batidas do coração, a voz da mãe, etc, e a associação desses sons com alguma coisa relevante - o próprio funcionamento do corpo e a pessoa mais próxima e constante. Em um primeiro momento, estas associações são instintivas, ou seja, ainda não passam por algum julgamento consciente, mas tornam-se reconhecíveis e identificáveis - o primeiro passo para gostar.



















Geralmente, o primeiro contato relevante que temos com música, são as famosas canções de ninar cantadas por algum familiar, normalmente a mãe. A voz da mãe, por si só já é um som facilmente identificável pelo bebê, portanto esse padrão já está estabelecido e o que vier daí, no mínimo já encontrará receptividade para a assimilação e a formação de novos padrões, pois a canção de ninar será facilmente associada ao carinho materno. Entretanto, aquela música em particular só será efetivamente reconhecível e depois julgada como "agradável" se houver a repetição dela em momentos similares de carinho (ou sono, ou qualquer outra atividade ou sensação a qual possa receber alguma associação).


Outro aspecto a ser analisado é a estruturação da música cantada, pois a maneira como foi composta também é fundamental para o desenvolvimento dos padrões (gosto). A explicação para isso é que nosso cérebro é um pouco resistente a coisas completamente novas, sempre que entra em contato com uma suposta novidade, imediatamente procura dentre seus padrões já estabelecidos alguma similaridade. Se essa similaridade não for encontrada, a reação normalmente é de repulsa ou irritação. Então como uma canção de ninar ouvida pela primeira vez poderá encontrar receptividade e "cair no gosto"? Isso ocorre apenas por ela ser executada pela voz familiar da mãe? Não, pois apesar da voz da mãe já ser um padrão estabelecido, a música cantada não é, e se esse fosse o único fator, a repetição da canção teria que ser muito grande para que o cérebro seja forçado a estabelecer um padrão novo para assimilar a música (não a voz, esta já está assimilada e associada). Então há algo mais na música que permite a fácil assimilação? A resposta é simples: sim - a canção de ninar já tem padrões similares em seu cérebro, eles apenas receberão desdobramentos.


Veja por que e como no terceiro artigo da série onde a coisa ficará realmente interessante!

     O Autor:
Rodrigo Nogueira foi professor de teoria e percepção musical, história da música e saxofone e atualmente é administrador de empresa e estudante de filosofia na USP

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