quinta-feira, 21 de julho de 2011

Está no ar o terceiro capítulo da série A Formação do Gosto Musical, criada pelo blog Sons, Filmes & Afins, e que está sendo republicada aqui na Comissão do Rock com a permissão do autor parceiro Rodrigo Nogueira. Hoje iremos falar sobre a estrutura básica da música. 




Para a boa compreensão deste artigo, é imprescindível a leitura prévia dos artigos anteriores, caso ainda não tenha lido, utilize os links abaixo:


A canção de ninar composta seja de forma empírica ou calculada, em geral obedece as seguintes regras para atingir seu objetivo de agradar ao bebê (melhor dito: utilizar os padrões cerebrais já desenvolvidos por ele).

RITMO

Ternário (como uma valsa) - esse ritmo alterna um primeiro som forte seguido de dois fracos que causam a sensação de um movimento circular, que sugere fluidez e continuidade (diferente dos compassos de base binária como o 2/2 e 4/4, quadrados e duros, por exemplo). A sensação desse ritmo é diretamente associada à vida intra-uterina passada durante praticamente toda a existência do bebê até aquele momento, portanto um padrão certamente já estabelecido; e é potencializado pelos movimentos aplicados ao bebê enquanto é embalado pelo familiar que executa a canção.

Aqui já dá para curtir um som!

O andamento da música é lento, sem sobressaltos - da maneira a qual o bebê mais se sentiu confortável dentro do ventre da mãe - ao ouvir um ritmo dessa forma, estima-se que o bebê revive as sensações dos momentos mais agradáveis de sua ainda curta vida.

Para deixar mais claro: não estou afirmando que o tempo passado na barriga da mãe é sempre calmo e tranquilo, muito pelo contrário, pois se fosse dessa forma não haveria distinção (inconsciente, é claro) entre sensações agradáveis e desagradáveis.

MELODIA

O experimento de Pitágoras

Há 6000 anos atrás aproximadamente, havia um filósofo e matemático na Grécia chamado Pitágoras que resolveu estudar a música, que até então era composta intuitivamente. 


Através de um experimento feito com um instrumento de corda. Pitágoras percebeu que se dividisse uma corda ao meio e a fizesse soar, o som seria idêntico ao produzido pelo toque da corda inteira, a diferença seria apenas a altura (mais aguda, o que anos mais tarde foi nomeado como "oitava"). Ele notou que se tocasse as duas cordas ao mesmo tempo - a inteira e a cortada pela metade, seu ouvido captava apenas uma sonoridade, então a combinação dos sons das duas cordas não era nem agradável, nem desagradável - nulo portanto. 


Quando ele pegou a corda original e a dividiu em três partes simétricas, o som produzido por esse terço, seguido pelo da corda original (ou vice-versa), a sensação foi deveras agradável. Após realizar diversos testes com comprimentos diferentes da corda, nenhum deles obteve tão boa audibilidade quanto esta terça parte em sequência à original (futuramente chamada de "quinta" na harmonia tradicional). 


Vários tamanhos de cordas em comparação com suas terças partes produziram o mesmo resultado, então evidenciou-se um padrão que por muitos anos foi considerado algo inato no ser humano apreciar tal combinação. Tempos depois, através de experiências com equipamentos eletrônicos que mediam frequências, foi constatado o fato de que nenhum som produzido pela natureza ou instrumento construído pelo homem, era puro (daí a diferença de timbres), mas sim que emitia uma série constante de outras frequências em intensidades mais fracas que a primordial (tônica) que iam arrefecendo no decorrer do tempo, e cada frequência era mais fraca que sua anterior. Agora uma perguntinha: qual você acha que é a sequência? Isso mesmo: a tônica seguida de sua oitava, depois a quinta e assim por diante, conforme a percepção do experimento de Pitágoras.

Fechando a história, desde antes de nascermos, tudo que ouvimos obedece essa sequência de frequências (campo harmônico), portanto certamente nascemos acostumados com ela!

Ô pai, tira essa música de velho!

Mas o que tudo isso tem a ver com a canção de ninar? Simples, as mais eficientes têm sua construção melódica (e harmônica se for um CD ao invés da mãe a cantar) obedecendo essa sequência sonora em sua forma mais básica e familiar, utilizando padrões cerebrais já estabelecidos.

Só que a história segue, pois conforme o bebê cresce, ele vai entrando em contato com diversas novidades sonoras, além de necessidades físicas e comportamentais próprias, que poderão ser associadas e forçar a criação de novos padrões cerebrais.

Não perca o próximo artigo!



  O AUTOR
Rodrigo Nogueira foi professor de teoria e percepção musical, história da música e saxofone e atualmente é administrador de empresa e estudante de filosofia na USP

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