terça-feira, 26 de julho de 2011

Depois do intervalo de alguns dias, contando com o fim de semana, voltamos a publicar mais um post da série A Formação do Gosto Musical. Aproveitem esse próximo capítulo de número 5, mais uma excelente publicação dessa grande série criada pelo blog Sons Filmes & Afins, que foi cedida à Comissão do Rck.


Caso tenham gostado dos posts da Formação do Gosto Musical comente e marque sua reação. A Comissão agradece!



Para a boa compreensão deste artigo, é imprescindível a leitura prévia dos artigos anteriores, caso ainda não tenha lido, utilize os links abaixo: 

Pelos artigos anteriores, verficamos que para se gostar de alguma música (poderia estender este conceito para outras coisas, mas seria sair de meu objetivo) é necessário estabelecer um padrão cerebral para que ela seja primeiro reconhecida para depois ser apreciada. Na parte 4 iniciei o estudo dos 4 grandes agentes que tornam o surgimento desses padrões possível; o primeiro abordado foi o costume/repetição. O segundo trato hoje, é a associação.

É importante deixar claro que não existe uma hierarquia entre os fatores, eles podem agir individualmente, mas o mais comum é que atuem simultaneamente, e o grau de influência de cada fator é particular de cada caso. No final do estudo, chegaremos à conclusão que trata-se de um fenômeno cíclico.

2º Associação


Como postulante a filósofo, entendo que sentimentos não são bons ou maus, simplesmente são. O que vai determinar a natureza deste sentimento são as consequências que ele acarreta, portanto nada impede que se goste de uma música mesmo ela estando associada a um sentimento considerado mau, como por exemplo a raiva. Muitas pessoas, principalmente quando estão passando pela fase chamada adolescência, tendem a expor (ou represar) este sentimento com uma certa frequência, mesmo não havendo uma razão clara para isso (poderia citar inúmeras explicações, mas novamente estaria perdendo o foco, entretanto, acredito que o caro leitor poderá facilmente constatar esse fenômeno). Geralmente a música mais associada a este sentimento é o rock pesado, em especial o punk. Não estou dizendo com isso que todos os aficcionados por este tipo de música sejam violentos ou raivosos, apenas que esta associação rock pesado-raiva seja natural e pode levar o indivíduo a uma catarse, se isso acontecer, logo vem a sensação de prazer e quase que imediatamente, o cérebro do indivíduo estabelecerá um padrão. Se possível naquele momento, o ouvinte irá repetir aquela música várias vezes para poder ter novamente aquelas sensações libertadoras. Outra coisa que fatalmente acontecerá será a busca por MAIS! A pessoa possivelmente terá interesse em conhecer outras músicas semelhantes em estrutura e expressão, pois aquele padrão necessitará de sedimentação. Pronto: foi criado um fã de rock pesado!

Poderia estender esse exemplo a todos os outros sentimentos, as reações seriam diferentes, assim como os estilos musicais, mas o processo seria o mesmo.

Esta associação música-sentimento pode ser potencializada se uma música em particular for associada a um evento em particular; não será o evento em si que criará a associação, mas sim o sentimento implícito a ele. Um exemplo fácil são as famosas "músicas de namorados": imagine você com seu namorado(a) em um momento íntimo, os sentimentos sendo expressos e principalmente sentidos, de repente toca "aquela música". É muito provável que ela marque imediatamente, ou seja, crie um padrão cerebral, e sempre que você a ouvir novamente, reviverá aquele momento especial. Os exemplos poderiam ser inúmeros, mas seriam sempre sobre momentos saudosos.



Observação importante: assim como explora o fator COSTUME, repetindo inúmeras vezes determinadas músicas nas rádios e tvs, a indústria da música também faz um extenso uso da ASSOCIAÇÃO. É muito comum vermos hoje os vídeo-clipes explorando os sonhos e desejos da população associando-os com as músicas. As relações mais comuns são com o sexo (desejo sexual) e o sucesso (em todos os níveis). A indústria ultimamente também tenta explorar de forma sutil o terceiro grande fator formador do gosto; o único que ela ainda não conseguiu colocar suas garras é sobre o quarto.

Ao ler este texto, você poderia chegar à conclusão que quando estou com o romance à flor da pele, se ouvir uma música romântica, imediatamente gostarei dela, ou se estiver furioso, a música pesada fará parte de meu gosto. Sabemos que as coisas não são sempre assim, embora aconteça muitas vezes, por quê? Outra questão que poderia ser formulada é: se os sentimentos são diversos, por que em geral o gosto das pessoas também não é, na verdade ficam restritos a um estilo musical ou dois? 

Porque ainda existem mais dois fatores formadores que em muitas ocasiões também deverão estar presentes para estabelecer o gosto.

Não perca os próximos capítulos da série!

Até aqui, qual sua opinião? Utilize os comentários, vamos explorar a questão!



   O AUTOR:
Rodrigo Nogueira foi professor de teoria e percepção musical, história da música e saxofone e atualmente é administrador de empresa e estudante de filosofia na USP

1 comentários:

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