terça-feira, 23 de julho de 2013


Após oito anos de espera, os fãs foram contemplados com o lançamento do novo álbum do Deep Purple, “Now What?”. O 19º disco de estúdio da banda traz no nome uma pergunta que parece recorrente depois de mais de 40 anos de estrada. É interessante acompanhar o que acontece com nomes como este, que surgiram no cenário musical algumas décadas atrás.


Antes mesmo de pegar a embalagem do CD, abrir e colocar em algum aparelho para tocar (ou de descompactar o arquivo rar. para ouvir), é preciso desconectar-se do passado da banda, dos clássicos como “In Rock”, “Burn” e “Machine Head”, lançados da década de 1970, e pensar no presente. O Deep Purple, assim como outras bandas de peso, tem, de fato, discos que marcaram fortemente a história do rock, mas também deve-se levar em consideração que muitos anos se passaram.  

Não se trata de um trabalho que surgiu apenas como um sinal de vida da banda, os músicos estavam com fome de novidades. Justamente por se desprender do passado, a banda lançou um de seus melhores álbuns, com uma excelente proposta. Ian Gillan, Roger Glover, Paice, Don Airey e Steve Morse não caíram no conhecido erro de tentar reviver os velhos tempos e foram felizes, já vi diversos desastres musicais acontecerem por tentativas frustradas de músicos tentarem fazer o mesmo que há 20, 30 anos atrás. A produção é de Bob Ezrin, que já esteve por trás de trabalhos emblemáticos, como “The Wall”, do Pink Floyd. A banda foi para Nashville, Tennessee, onde Ezrin mantém suas instalações.  

Pode-se encontrar vestígios do “velho Purple” no início do álbum, nos solos da primeira faixa, “A Simple Song”, o que também é notório em “Body Line” e “Après Vous”. Em “Weirdstan”, fica nítido um “novo Purple”, a canção tem um balanço pesado e envolvente. Essa “nova banda” também pode ser facilmente ouvida em “Uncommom Man”. “Out Of Hand” traz uma psicodelia e “Vincente Price” é totalmente sombria, em climas de terror, o que é bem característico de Airey. Em “Hell To Pay”, assim como em outras canções, é possível ouvir um Purple rejuvenescido, como não acontecia há muito tempo.

As faixas comprovam o que foi dito em entrevistas: foi um trabalho feito com paixão e comprometimento. A sonoridade rica e espontânea de “Now What?” é cativante. É um álbum superior aos trabalhos anteriores da banda, com pitadas de diferentes estilos e histórias, o que só músicos com anos e mais anos de experiência poderiam fazer.

“Now What?” é um disco que está gerando muita reclamação por parte dos saudosistas de plantão, mas, apesar disso, conseguiu mostrar que, após décadas, o Purple vem mantendo sua qualidade com grande liberdade criativa, como há muito tempo não se ouvia. Gillan soube usar sua voz com sabedoria, Glover mantém a pulsação do groove. a bateria de Paice é magnífica, Morse entra com inspirados riffs e Airey hipnotiza o ouvinte com os solos. As músicas carregam consigo uma certa magia e despertam a curiosidade e o desejo de ouvi-las ao vivo.  

É um excelente álbum, moderno, com uma sonoridade bastante interessante e arranjos complexos. Vale a pena conferir, sem medo. Vida longa ao Purple!

Faixas:
01. A Simple Song
02. Weirdistan
03. Out of Hand
04. Hell to Pay
05. Body Line
06.Above and Beyond
07. Blood From a Stone
08. Uncommon Man
09. Après Vous
10. All The Time In The World
11. Vincent Price
12. It Will Be Me (Bonus Track)



Aproveitando o gancho, vou compartilhar com vocês, leitores da Comissão, uma entrevista que faz parte de um material interessante que encontrei na edição de Julho/2013 do Almanaque da Saraiva. A capa dele é com o Deep Purple e, além da exclusiva com o grande e respeitável Gillan, traz algumas curiosidades e um resumo da trajetória da banda.  


Almanaque: O que levou o Deep Purple a fazer um intervalo tão longo antes de lançar um novo disco?
Ian Gillian: Simplesmentenão havia urgência em gravar, embora tivéssemos muito material. Faltava uma voz para decidir: é hora de gravar. Foi o produtor do disco, Bob Ezrin, quem foi atrás de nós durante uma turnê no Canadá, em fevereiro de 2012, e começou a conversar sobre um novo disco.

A: Você sempre foi muito crítico em relação à sonoridade da banda nos álbuns do Deep Purple. Agora, declarou que “Now What?” alcançou um nível que o deixou satisfeito. O que aconteceu?
IG: Esse é um detalhe que sempre me incomodou. Nós somos uma banda ao vivo, com vigor, e nem sempre senti que nossos discos passam isso. É algo na sonoridade, algo que se perde, talvez a tecnologia, não sei. Fora “Made in Japan” (disco ao vivo, gravado em 1972), que para mim é nosso melhor disco, nunca conseguimos alcançar essa sonoridade ideal, a não ser agora. E nós não mudamos. Continuamos tocando como antes. Então, a única resposta que eu encontro é nosso produtor, que conseguiu esse resultado maravilhoso. Ficou perfeito.

A: Já são 42 anos desde o lançamento de “Smoke On The Water”, um hit que vocês também nunca tiraram do set list dos shows. Essa canção ainda é muito especial para a banda?
IG: Essa música se tornou parte da banda, nunca me cansei dela. “Smoke On The Water” é uma música simples, um blues, um bom riff, fácil de tocar. Todo mundo aprender. E nos shows, nós temos que combinar as coisas. O público quer ouvir as músicas que gosta e sabe cantar. Então fazemos uma mistura. Algumas músicas não tocam no rádio, por exemplo, mas os fãs adoram. Temos que tocá-las.

A: Vocês têm parceiros musicais de longa data, como Roger Glover (baixista do Deep Purple) e o Tony Iommi (Black Sabbath). Qual o segredo de uma boa parceria?
IG: No final, é tudo uma questão de química, assim como nas relações do dia a dia. Fiz canções incríveis não só com eles, mas com outros parceiros. Isso acontece quando você se dá bem com a pessoa. Esse é o segredo.

A: Vocês vêm frequentemente ao Brasil. Tem algum programa favorito quando estão por aqui?
IG: Bem, são mais de 40 anos de banda. Somos uma banda que gosta de tocar ao vivo, e ir ao Brasil é sempre um prazer. No Rio, gosto de ir à praia e tomar caipirinhas. Agora tenho amigos lá e em São Paulo. Hoje aproveito para encontrá-los, tomar uma cerveja e colocar o papo em dia.

A: Soube que está escrevendo um livro. É verdade? É sobre música?
IG: É, são dois na verdade. Uma mais político, outro filosófico. Mas estou sempre trabalhando em tantas coisas... Eu gostaria de nunca ter dito isso. Agora todos estão esperando e eu vou ter que terminar (risos). Vou lançá-los uma semana depois que eu morrer (risos).



 Fonte: Almanaque Saraiva - Julho/2013

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