Após oito anos de espera, os fãs foram contemplados com
o lançamento do novo álbum do Deep Purple, “Now
What?”. O 19º disco de estúdio da banda traz no nome
uma pergunta que parece recorrente depois de mais de 40 anos de
estrada. É interessante acompanhar o que acontece com nomes
como este, que surgiram no cenário musical algumas décadas
atrás.
Antes mesmo de pegar a embalagem do CD, abrir e colocar em algum
aparelho para tocar (ou de descompactar o arquivo rar. para ouvir), é
preciso desconectar-se do passado da banda, dos clássicos como
“In Rock”, “Burn” e “Machine Head”, lançados da
década de 1970, e pensar no presente. O Deep Purple, assim
como outras bandas de peso, tem, de fato, discos que marcaram
fortemente a história do rock, mas também deve-se levar
em consideração que muitos anos se passaram.
Não se trata de um trabalho que surgiu apenas como um sinal de
vida da banda, os músicos estavam com fome de novidades.
Justamente por se desprender do passado, a banda lançou um de
seus melhores álbuns, com uma excelente proposta. Ian Gillan, Roger Glover,
Paice, Don Airey e Steve Morse não caíram no conhecido erro de tentar
reviver os velhos tempos e foram felizes, já vi diversos
desastres musicais acontecerem por tentativas frustradas de músicos
tentarem fazer o mesmo que há 20, 30 anos atrás. A
produção é de Bob Ezrin, que já esteve
por trás de trabalhos emblemáticos, como “The Wall”,
do Pink Floyd. A banda foi para Nashville, Tennessee, onde Ezrin
mantém suas instalações.
Pode-se encontrar vestígios do “velho Purple” no início
do álbum, nos solos da primeira faixa, “A Simple Song”, o
que também é notório em “Body Line” e “Après
Vous”. Em “Weirdstan”, fica nítido um “novo Purple”,
a canção tem um balanço pesado e envolvente. Essa
“nova banda” também pode ser facilmente ouvida em
“Uncommom Man”. “Out Of Hand” traz uma psicodelia e “Vincente
Price” é totalmente sombria, em climas de terror, o que é bem
característico de Airey. Em “Hell To Pay”, assim como em
outras canções, é possível ouvir um
Purple rejuvenescido, como não acontecia há muito
tempo.
As faixas comprovam o que foi dito em entrevistas: foi um trabalho
feito com paixão e comprometimento. A sonoridade rica e
espontânea de “Now What?” é cativante. É um
álbum superior aos trabalhos anteriores da banda, com pitadas
de diferentes estilos e histórias, o que só músicos
com anos e mais anos de experiência poderiam fazer.
“Now What?” é um disco que está gerando muita
reclamação por parte dos saudosistas de plantão,
mas, apesar disso, conseguiu mostrar que, após décadas,
o Purple vem mantendo sua qualidade com grande liberdade criativa,
como há muito tempo não se ouvia. Gillan soube usar sua
voz com sabedoria, Glover mantém a pulsação do
groove. a bateria de Paice é magnífica, Morse entra com
inspirados riffs e Airey hipnotiza o ouvinte com os solos. As músicas
carregam consigo uma certa magia e despertam a curiosidade e o desejo
de ouvi-las ao vivo.
É um excelente álbum, moderno, com uma sonoridade
bastante interessante e arranjos complexos. Vale a pena conferir, sem
medo. Vida longa ao Purple!
Faixas:
01. A Simple Song
02. Weirdistan
03. Out of Hand
04. Hell to Pay
05. Body Line
06.Above and Beyond
07. Blood From a Stone
08. Uncommon Man
09. Après Vous
10. All The Time In The World
11. Vincent Price
12. It Will Be Me (Bonus Track)
Aproveitando o gancho, vou compartilhar com vocês, leitores da
Comissão, uma entrevista que faz parte de um material
interessante que encontrei na edição de Julho/2013 do
Almanaque da Saraiva. A capa dele é com o Deep Purple e, além
da exclusiva com o grande e respeitável Gillan, traz algumas
curiosidades e um resumo da trajetória da banda.
Almanaque:
O que levou o Deep Purple a fazer um intervalo tão longo antes
de lançar um novo disco?
Ian Gillian: Simplesmentenão havia urgência em
gravar, embora tivéssemos muito material. Faltava uma voz para
decidir: é hora de gravar. Foi o produtor do disco, Bob Ezrin,
quem foi atrás de nós durante uma turnê no
Canadá, em fevereiro de 2012, e começou a conversar
sobre um novo disco.
A: Você
sempre foi muito crítico em relação à
sonoridade da banda nos álbuns do Deep Purple. Agora, declarou
que “Now What?” alcançou um nível que o deixou
satisfeito. O que aconteceu?
IG: Esse é um detalhe que sempre me incomodou. Nós
somos uma banda ao vivo, com vigor, e nem sempre senti que nossos
discos passam isso. É algo na sonoridade, algo que se perde,
talvez a tecnologia, não sei. Fora “Made in Japan” (disco
ao vivo, gravado em 1972), que para mim é nosso melhor disco,
nunca conseguimos alcançar essa sonoridade ideal, a não
ser agora. E nós não mudamos. Continuamos tocando como
antes. Então, a única resposta que eu encontro é
nosso produtor, que conseguiu esse resultado maravilhoso. Ficou
perfeito.
A: Já
são 42 anos desde o lançamento de “Smoke On The
Water”, um hit que vocês também nunca tiraram do set
list dos shows. Essa canção ainda é muito
especial para a banda?
IG:
Essa música se tornou parte da banda, nunca me cansei dela.
“Smoke On The Water” é uma música simples, um
blues, um bom riff, fácil de tocar. Todo mundo aprender. E nos
shows, nós temos que combinar as coisas. O público quer
ouvir as músicas que gosta e sabe cantar. Então fazemos
uma mistura. Algumas músicas não tocam no rádio,
por exemplo, mas os fãs adoram. Temos que tocá-las.
A: Vocês
têm parceiros musicais de longa data, como Roger Glover
(baixista do Deep Purple) e o Tony Iommi (Black Sabbath). Qual o
segredo de uma boa parceria?
IG:
No final, é tudo uma questão de química, assim
como nas relações do dia a dia. Fiz canções
incríveis não só com eles, mas com outros
parceiros. Isso acontece quando você se dá bem com a
pessoa. Esse é o segredo.
A: Vocês
vêm frequentemente ao Brasil. Tem algum programa favorito
quando estão por aqui?
IG:
Bem, são mais de 40 anos de banda. Somos uma banda que gosta
de tocar ao vivo, e ir ao Brasil é sempre um prazer. No Rio,
gosto de ir à praia e tomar caipirinhas. Agora tenho amigos lá
e em São Paulo. Hoje aproveito para encontrá-los, tomar
uma cerveja e colocar o papo em dia.
A: Soube
que está escrevendo um livro. É verdade? É sobre
música?
IG:
É, são dois na verdade. Uma mais político, outro
filosófico. Mas estou sempre trabalhando em tantas coisas...
Eu gostaria de nunca ter dito isso. Agora todos estão
esperando e eu vou ter que terminar (risos). Vou lançá-los
uma semana depois que eu morrer (risos).
Fonte: Almanaque Saraiva - Julho/2013