Pandeiro
e guitarra: swing perfeito!
Choooora, guitarra! Após ácidas críticas de
alguns fãs de rock, a Mocidade Independente de Padre Miguel mostrou um carnaval
bem diferente do tradicional. Além de introduzir a guitarra na
bateria, a escola desfilou com uma produção num estilo
rock and roll carnavalesco, com alegorias e adereços
característicos, a Sapucaí ficou com a cara do Rock in
Rio por 80 minutos.
Dentre todo o material utilizado, 90% não era de carnaval, o
que serviu como uma solução criativa e barata. A
apresentação foi composta, em sua grande parte, por
objetos alternativos e sustentáveis — garrafas pet,
tampinhas e canudos. Foram momentos de história, de reviver o
passado do festival de um modo diferente.
A comissão de frente, criação de Jaime Arôxa
— bailarino, dançarino, coreógrafo e professor de
dança —, reuniu sete casais com visual retrô, bem anos
50, que dançaram e empolgaram o público do início
ao fim da avenida. Uma guitarra de 20 metros anunciava que o rock
estaria presente em todo o desfile. Nela, acrobatas executavam uma
série de movimentos, representando as notas musicais, o
momento em que a guitarra ganha vida nas mãos de um músico.
Ainda para abrir o desfile, a escola de samba trouxe Serguei, que foi
uma espécie de mestre de cerimônias, representando o
delírio do roqueiro. Aos 80 anos de pura irreverência,
ele atravessou a Marquês de Sapucaí vestindo uma
camiseta com a frase: “eu comi a Janis Joplin”.
— Eu sou um roqueiro carioca e o desfile não ficou devendo nada ao Rock in Rio.
Cazuza, Renato Russo, Raul Seixas, Elvis Presley, Amy Winehouse e
Whitney Houston foram algumas das estrelas homenageadas no primeiro
carro e dividiram espaço com um belíssimo Cadillac
conversível. Uma boa recordação daqueles que já
partiram e deixaram suas músicas para embalar gerações
e mais gerações.
O segundo carro representava a primeira edição do
festival (1985). A base dele foi toda feita de calças jeans,
que foram doadas por componentes e funcionários do barracão.
A drag queen Susy Brasil interpretou a cantora Nina Hagen, que
participou do Rock in Rio 1. No mesmo carro, haviam vários
homens prateados com um bigode inconfundível: Freddie Mercury
que, junto com o Queen, fez um dos shows mais memoráveis da
história do Rock in Rio, estava ali representado, diversas
vezes. Também está presente o Eddie, mascote do Iron Maiden.
cariocas
faziam parte da fantasia dos integrantes da escola. Era uma alusão
à segunda vez que o Rock in Rio foi realizado, em 1991, no estádio do Maracanã, as roupas representavam a música e o futebol, grandes paixões
do povo brasileiro. Destaque para o nome das alas: “Botafogo no
Rock”, “Tricolor Radical”, “Boladona”, “Urubu Metaleiro”
e “Almirante Pop”. No carro, os gomos pretos de uma bola de
futebol ficaram em movimento, como se estivessem pulsando.
O lema do Rock in Rio, “por um mundo melhor”, ganhou destaque no
quarto setor. Temas como ecologia, sustentabilidade e reciclagem
foram abordados. A Mocidade não usou plumas no carnaval 2013,
todo o material era reciclado. O quinto setor relembrava o Rock in
Rio em Lisboa, fazendo referências aos portugueses em fantasias
e alegorias. Confeccionada com 15 mil Cds doados por uma gravadora de
São Paulo, a alegoria reproduziu o Monumento aos Navegantes.
Já o sexto setor, mostrou um pouco da Espanha: Rock in Rio em
Madri. Um touro roqueiro dividiu espaço com imagens
tipicamente espanholas. A volta do festival ao Brasil ganhou a
avenida com fantasias que retratavam o funk, hip hop, axé,
música eletrônica e rock. O carnavalesco Chico Spinoza
desfilou caracterizado como Elton John em um carro com um gigantesco
boneco de Stevie Wonder, que atravessou a Marquês de Sapucaí "tocando" teclado. Ambos estiveram presentes na última versão
do Rock in Rio em terras brasileiras, em 2011.
Enquanto o desfile acontecia, a bateria dava um show à parte.
Coreografada, ela levantou o público com sua ousadia. Em meio
a paradinhas e paradonas, deu um show de harmonia e qualidade
musical. Vale um destaque para as baianas, que passaram pela avenida
com um visual bem rock and roll.
Campeã do grupo especial do carnaval carioca por cinco vezes,
a Mocidade foi fundada em 1955 e, dessa vez, resolveu inovar. A ideia
de falar sobre rock e juntar o estilo com o samba, pareceu de péssimo
gosto para algumas pessoas, que fizeram duras críticas. Achei
que a escola teve uma bela atitude, digna de aplausos e, ao ver o
resultado final, fiquei surpresa com as fantasias, com a forma com
que o maior festival brasileiro de música foi retratado. As
diferenças desfilaram unidas, diversas tribos estavam
presentes, o desfile fez jus a intenção do Rock in Rio.
Não vi nenhuma palhaçada no desfile, como li em alguns
comentários. Afinal de contas, é carnaval, ninguém
poderia estar “sobriamente” vestido. A agremiação
de Padre Miguel está de parabéns, fez bonito na
avenida!
Confira mais algumas fotos do desfile:
Desfile na íntegra: