Qual tema cairia bem para o fim de 2012? O que poderia trazer um
olhar, uma percepção de vida e de mundo, que acabaria
gerando reflexão? É sobre tais questões que
a música “Do The Evolution” foi escolhida.
O assunto de hoje é evolução e um videoclipe
repleto de fatos históricos. O quadro Segredos Musicais traz
um sucesso dos estadunidenses do Pearl Jam que veio acompanhando pelo
melhor clipe da banda, em minha opinião.
“Do The Evolution” é uma canção do álbum
“Yield”, de 1998. A letra foi escrita pelo vocalista da banda,
Eddie Vedder, e faz uma dura crítica à sociedade,
mostrando claramente o que o homem fez e ainda faz em nosso planeta,
e seu modo de viver, desde os primórdios da humanidade até
os dias de hoje.
Vedder diz que se trata de uma canção que fala sobre
“como as pessoas estão bêbadas com a tecnologia, se
achando donas do mundo e controlando tudo o que nele vive.” Ela foi
influenciada pela obra “Ismael — um romance da condição
humana”, de Daniel Quinn, assim como as outras faixas do álbum.
A ideia trabalhada pelo autor é a de que os seres humanos não
são os animais mais “evoluídos” e que a civilização
moderna encena tal mito.
O clipe foi co-dirigido por Kevin Altieri, conhecido pela direção
de Batman: A Série Animada, e por Todd McFarlane, que é
famoso pelo livro Spawn e por ter desenhado o clipe de “Freak on a Leash”, do
Korn. Ele levou cerca de dezesseis semanas para ser produzido. A bela
moça que aparece em alguns trechos foi inspirada pela
personificação da Morte, dos quadrinhos do The Sandman.
A abordagem de hoje será um pouco diferente, pois vale
analisar a letra e o vídeo juntos, já que ambos
caminham de mãos dadas. Então, mãos à
obra!
Tudo começa com o Big Bang. As primeiras imagens do videoclipe
são de um planeta que, logo em seguida, se converte uma célula. Ela
se reproduz e vai se multiplicando em muitas outras, as quais se
transformam nos primeiros animais. Ou seja, inicia-se a evolução.
Vemos uma sequência de animais sendo mortos por outros de maior
porte, o que nada mais é que a teoria da Seleção
Natual: os mais fortes sobrevivem. Os dinossauros aparecem no vídeo
e logo são extintos pela catástrofe do meteoro, que,
supostamente, os fez desaparecer do planeta.
A próxima etapa evolutiva mostra um primata menor em uma série
de transformações, até chegar ao homem. Para
isso, o mais forte vai matando o mais fraco, sucessivamente, enquanto
a letra diz:
“I can kill 'cause in God I trust”
Traduzindo: ele pode matar porque confia em Deus. Frase que se
encaixa perfeitamente com o movimento das Cruzadas, mostrando as
atrocidades cometidas em nome de Deus. A história da
humanidade é desencadeada e, tanto a letra quanto a melodia,
marcam, ironicamente, diversos fatos históricos.
Em seguida, vemos um homem se jogando do alto de um prédio, o
que pode ser entendido como um suicídio proveniente do crash
da Bolsa de Nova York, em 1929, que levou milhares de pessoas à
falência, afetando o mundo inteiro, e fez com que algumas,
desesperadas, tivessem atitudes drásticas como essa. E a
música continua:
“I'm at peace, I'm the man
Buying stocks on the day of the crash”
Os próximos personagens do vídeo são soldados do
Exército Nazista. É um momento que retrata uma das
maiores barbaridades cometidas pelo ser humano, mostra o Holocausto: os judeus em um campo de concentração, onde sobreviviam
em meio a péssimas condições, com mais pessoas
do que a capacidade do local, sem comida, sem água, os quais em meio ao
terror e atitudes desumanas, foram forçados a trabalhar e,
depois, exterminados pelos nazistas. Junto com eles, homossexuais,
deficientes físicos e mentais, entre outros, também
foram vítimas de preconceito e mortos de forma brutal.
Ainda falando sobre o período da Segunda Guerra Mundial, temos
a queima de livros organizada. Toda crítica ou pensamento que
divergisse dos padrões impostos pelo regime nazista era
destruído.
“All the rolling hills, I'll flatten 'em out
It's herd behavior
It's evolution, baby!”
A Revolução Francesa e seus ideais de igualdade,
fraternidade e liberdade são representados por uma guilhotina.
As cenas também fazem alusão à caça às
baleias e aos escravos egípcios, que aparecem puxando imensos
blocos, trabalhando para construir um dos maiores impérios que
o mundo já viu: o Império Romano. Os palácios
dos grandes imperadores, que sempre apareciam ao lado de seus filhos
também são caricaturados:
“Admire me, admire my home
Admire my son, he's my clone"
Surge um campo cheio de cruzes e, em seguida, um homem vendendo
crucifixos, representando a religião comercializada, onde uns
ganham dinheiro às custas da fé dos outros. O padre
catequiza o índio, o que remete ao europeu conquistando a
América, período no qual milhares de indígenas
foram mortos porque se recusaram a trabalhar. Aparecem as primeiras
fábricas, toda aquela fumaça, a poluição,
enfim, a falta de preocupação com a natureza:
“This land is mine, this land is free
I'll do what I want but irresponsibly”
Líderes políticos e religiosos aparecem falando para a
massa, controlando sua forma de agir e de pensar. Enquanto isso, a
música diz:
“I'm a thief, I'm a liar
There's my church, I sing in the choir”
O vídeo mostra flashes da Primeira Guerra Mundial,
caracterizada pelas trincheiras, da Segunda, que é
representada pelos nazistas e da Guerra do Vietnã, com as
bombas de Napalm (bombas inflamáveis à base de gasolina
gelificada).
O ser humano virou comida enlatada para cachorros. É uma cena
que pode representar o homem sendo devorado pelo capitalismo,
representado pelo cão, que é alimentado pelo consumo
exagerado e inconsciente. A violência urbana também é
tema: o estupro, especificamente. Ainda fica registrado o poder dos
donos de terras: um homem batendo em outro com um chicote.
A última etapa é era da digitalização.
Nela, vemos o homem trabalhando em seu computador, sendo escravo dele
e do tempo. Vemos um macaco sobre uma mesa de cirurgia, o que pode
ser encarado como uma referência ao primeiro transplante de
coração, que ocorreu em 1964: o doador era um macaco e
o paciente não sobreviveu, seu corpo rejeitou o órgão.
O ser humano é tratado como objeto, as crianças já
nascem com código de barras.
O vídeo termina com a bomba atômica. O planeta explode,
tudo acaba. Seria essa a solução? Isso é “Do
The Evolution”, uma letra repleta de conteúdo, que conta
nossa história e a critica, nos faz parar e pensar, e tudo fica
muito bem caracterizado pelo videoclipe. É a evolução
tecnológica e o regresso da moral humana sintetizados em cerca
de 4 minutos.
Pena que a maioria só para pra pensar durante os 4 min do clipe, depois volta pra suas vidas, padrão da sociedade.
ResponderExcluirSou muito fã de Sandman, não sabia que a personagem era inspirada na irmã do morpheus, vlw pela info.
Cara, excelente trabalho. A análise ficou realmente muito boa.
ResponderExcluircomo ´o nome da menina q aparece no vídeo ?
ResponderExcluirMuito bom, Parabéns!!!
ResponderExcluirMuito bom. Como chegou a essas conclusões tão convictas sobre as intenções das imagens?
ResponderExcluirEu jurava quen Bruce Timm era o ilustrador da animação
ResponderExcluirExcelente análise!
ResponderExcluirExcelente análise!
ResponderExcluir