terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Se
estivesse vivo, o “tímido” beatle George Harrison
completaria 70 anos no último dia 25. Sem sombra de dúvidas, ele
está no hall dos maiores músicos que o mundo teve o
prazer de conhecer. Harrison deixou belíssimas canções
através dos Beatles e de sua carreira solo. O tempo passa, mas
elas continuam vivas dentro do coração de milhões
de fãs ao redor do mundo e são transmitidas de geração
para geração.
Há
um leque de opções para homenageá-lo. Entretanto, resolvi aproveitar a data para compartilhar belíssimas
palavras de Rob Gordon. É um conto conhecido por alguns, mas desconhecido por muitos outros, que escolhi para ilustrar a data e fazer com que um filme de boas recordações invada a mente de cada leitor, relembrando tudo o que o músico nos deixou.
Beatlemaníacos de plantão, preparem os
lenços, pois será difícil conter as lágrimas!
“Por
trás dos cabelos longos e bigode, ele está olhando para
baixo, observando algo fixamente. É surpreendido pela chegada
do companheiro, que possui cabelos ainda mais longos que quase
escondem os óculos de aro fino. O recém-chegado
senta-se ao lado do amigo, olhando para baixo e apertando os olhos
devido à miopia. Após alguns segundos, pergunta:
– Ele
já entrou no palco?
– Já.
Está tocando há alguns minutos – responde o amigo.
– Onde
é?
– No
Brasil. Em São Paulo, acho.
– Está
cheio?
– Muito.
O
de óculos permanece em silêncio alguns segundos,
tentando captar o som que vem de baixo, de longe.
– O
que ele está tocando agora? Jet?
– Acho
que sim, não dá para ouvir direito por causa da
gritaria. Mas acho que é sim.
– Eu
gosto desta música.
– Ele
está falando com a platéia, mas não consigo
entender nada.
– Acho
que é português. Não dá para ouvir
direito, o público não deixa.
– Com
a gente era assim, também. Lembra no Japão? Ninguém
ouvia nada.
– Olhe!
All My Loving!
Ambos
começam a bater as mãos no joelho, de forma quase
inconsciente, acompanhando o ritmo da música. “I’ll
pretend that I’m kissing…”, o de bigode canta baixinho.
– George!
Você ainda se lembra da letra!
– Tem
como esquecer? Aposto que você se lembra também.
– Eu
me lembro de todas. Todas as músicas. Todos os versos.
– Ele
está afinado ainda, não?
– Ele
sempre cantou muito bem. Desde menino, ele sempre cantou muito.
Ficam
em silêncio mais um pouco, olhando para baixo atentamente.
– Qual
é agora? Drive my Car? A platéia esta fazendo barulho
demais.
– Drive
my Car. Essa é quase toda dele, sabia? Eu apenas ajudei em uns
trechos.
– Está
no Rubber Soul, né?
– Acho
que sim. Sim.
– A
platéia está cantando a música inteira.
– Como
eles sabem a letra? Eles não eram nem nascidos quando lançamos
isso.
– Não
sei… Mas eles estão cantando a música inteira, John.
Dá para ver daqui.
Permanecem
em silêncio por mais algum tempo. O de óculos, mesmo sem
perceber, balança a cabeça para os lados discretamente,
ao som da música.
– Ele
foi para o piano.
– Eu
nunca entendi como ele sabia tocar tantos instrumentos. Isso não
é normal.
That
leads to your door
Will
never disappear
– Qual
ele está tocando agora? The Long and Winding Road?
– Sim.
Veja! As pessoas estão chorando!
Afastando
os cabelos do rosto, o míope aperta ainda mais os olhos,
vasculhando a multidão.
– Não
gosto dessa música – ele diz, mais para si mesmo que para o
amigo.
– É
linda. Ninguém conseguia fazer baladas como ele.
– Mas
não gosto. Nós mal nos falávamos na época.
– Acontece.
Acontece com todo mundo, por que não iria acontecer com a
gente?
– Verdade.
– Ele
está tocando as nossas, olhe. Antes foi And I Love Her. Agora
é Blackbird.
– Eu
não acredito que as pessoas ainda cantam junto, depois de
tantos anos… A letra não está aparecendo no telão?
– pergunta o de óculos, abaixando-se ainda mais e tentando
ver o palco.
– Não,
elas sabem mesmo. Dá para perceber daqui.
– Ele
disse meu nome?
– Sim.
Você sabe qual ele vai tocar. Ele escreveu para você.
I
still remember how it was before,
and
I’m holding back the tears no more…
– Você
está legal, John?
– Eu
e ele perdemos muito tempo. Hoje eu sei disso.
– Eu
sei.
– Sabe,
George… Se nós soubéssemos que eu teria tão
pouco tempo, talvez tivéssemos nos comportado de outra
maneira.
– Talvez
não. Vocês sempre foram melhores amigos. Ele sabia
disso. Ele faz questão de cantar essa, todo show. E ele sabe
que você está vendo. Ele não canta para a
platéia, ele canta para você. É a forma que ele
encontra de matar a saudade um pouco.
– Será?
– Sim.
Eu senti muito sua falta antes de nos reencontramos. Olhe as pessoas
lá embaixo, estão soluçando. Todos sentem sua
falta.
– Eu
sinto muito a falta dele. Eu sinto muita saudade da gente.
Especialmente do começo. Lembra da Alemanha?
– A
gente ainda era menino… Tudo era o máximo, tudo era
novidade. Nós éramos novidade.
– Nós
ainda somos novidade. Olhe, essa é sua!
You’re
asking me, my love will grow?
I
don’t know, I don’t know
– Eu
me lembro de quando escrevi. Era difícil escrever algo com
vocês ali.
– Essa
música é linda.
– Olhe!
No telão! Ele colocou uma foto minha!
– A
gente gostava demais de você. Você era mais novo, víamos
você como uma espécie de caçula.
– Eu
sei – concorda o de bigode, rindo alto.
Esperam
em silêncio a plateia aplaudir. Ao final da música,
ambos estão visivelmente emocionados, cada qual com suas
lembranças. Os acordes de uma nova canção
parecem despertá-los.
– Eu
gosto dessa!
– Essa
é dele, não é nossa.
– Band
on the Run? Mas poderia ser nossa.
– Se
dependesse de mim, seria.
– Ah,
sim. De todos nós, você sempre foi o mais roqueiro, essa
música é a sua cara.
– Ele
fez muita coisa boa, né?
– Sim.
Enquanto
o de óculos bate os dedos no joelho, o de bigode, sentado de
pernas cruzadas transforma sua própria coxa no braço de
uma guitarra imaginária. Ambos parecem distantes, talvez
pensando não no que foi, mas no que poderia ter sido.
I
read the news today oh boy
About
a lucky man who made the grade
Enquanto
o de bigode tamborila os dedos no ritmo, seu amigo remove os óculos
rapidamente. Está chorando.
– Você
sempre chora nessa.
– Foi
uma das últimas que escrevemos juntos. Mesmo separados. Metade
é minha, metade é dele. É estranho, hoje, vê-lo
cantando minha parte, e eu aqui.
– Ele
não está cantando sozinho.
– Como
não?
– Olhe
o estádio. É uma voz só, uma voz de sessenta mil
pessoas.
– O
que são aquelas coisas brancas? Balões de gás?
– Sim.
– Como
isso fica bonito, vendo daqui de cima.
– Espere…
Give peace a chance? Isso não era da música, certo?
– Não.
– Isso
é seu!
– Sim.
– O
estádio inteiro está cantando! Olhe os balões de
gás! As pessoas estão chorando, se abraçando.
O
de óculos resmunga um palavrão, sorrindo. Seus óculos
estão embaçados, molhados de saudade.
– Let
it be. Essa não poderia faltar.
– Eu
não me conformo com isso, com as pessoas ainda saberem as
letras inteiras.
But
in this ever changing world
in
which we live in
– Eu
gosto dessa também.
– Uau!
Você viu aquilo, John? São fogos?
– Ficou
demais, né?
– Nós
não tínhamos isso no nosso tempo.
– Nós
não precisávamos.
– Mas
ele também não precisa. Mesmo assim, ficou lindo.
– O
que as pessoas estão cantando, agora? Hey Jude?
– Sim…
Estão abraçados, cantando junto com ele.
– É
engraçado, George… Eu sei que nós éramos bons…
Mas acho que nunca entendi a importância que temos na vida das
pessoas, até pouco tempo atrás. Quando eu assisto aos
shows dele, e vejo as pessoas cantando junto, chorando… Mexe demais
comigo.
– Nós
éramos bons, John. Você sabe disso.
– Aparentemente,
ainda somos. As pessoas ainda…
– Ainda
o quê?
– Sabe,
eu estava errado.
– Oi?
– Quando
eu disse que o sonho acabou. Eu estava errado.
– Nós
três sempre soubemos disso, que você estava errado. Você
sempre falou demais. Lembra aquela confusão de sermos maiores
que Deus?
– Sim…
Mas o sonho… O sonho não acabou nunca. Eu errei.
– John?
– Sim?
– O
sonho nunca vai acabar. Não enquanto as pessoas se lembrarem.
E elas vão se lembrar para sempre.
Sorrindo,
John Lennon levanta-se e oferece a mão a George Harrison.
– Você
está com sua guitarra?
– Eu
sempre estou com minha guitarra, você sabe.
– Vamos
tocar um pouco?
– Qual?
– Qualquer
uma. Deu saudade.
Milhões
de quilômetros abaixo, Paul McCartney, emocionado,
agradece à platéia.”
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Só queria saber quem escreveu isso, por acaso quem escreveu esteve entrevistando eles em outra vida e voltou prá divulgar essa entrevista?
ResponderExcluirGente os Beatles foram e sempre serão o maior fenômeno cultural, musical, comportamental do planeta, difícil substituí-los, porém tudo tem limites, vamos viver a realidade e não fantasias e suposições, ok?
É uma fanfic, uma história escrita por um fã sobre (ou com personagens) de bandas, filmes e outros, ou seja, uma história como a de um livro ou de uma crônica. Não tem problema nenhum em fazer uma história dessas, que foi linda, às vezes fica fica melhor do que muitos livros por aí
ResponderExcluirIsso é absurdamente lindo. Chorei aqui de verdade.
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